terça-feira, 6 de setembro de 2016

Planejamento passa por técnico

Há anos bato na tecla de que é preciso contratar um técnico com convicção. É ele quem vai montar o elenco, ainda que apenas indique as características que precisa nos jogadores a serem contratados. É ele quem vai estudar os adversários, montar a melhor estratégia e escalar os jogadores.

Pensei que o América havia superado essa fase também há anos. Desde 2011, a maior parte dos treinadores foi contratada com convicção. De cabeça, lembro de Flávio Araújo, Roberto Fernandes e Oliveira Canindé como exemplos de uma forte convicção. Esses treinadores só caíram depois de muitos resultados negativos. Flávio Araújo, por exemplo, só caiu porque entregou o cargo.

Essa continuidade traz estabilidade e economia para uma equipe de orçamento apertado, como tem sido o América nos últimos anos. Afinal, a cada troca, novas dispensas e contratações praticamente jogam o trabalho anterior no lixo e comprometem ainda mais os parcos recursos.

Já na eleição, Beto Santos dava mostras de que não entendia que um treinador deveria ser contratado por convicção. Aliás, ninguém, seja jogador, treinador, diretor... Segundo o então candidato, ninguém teria lugar cativo no América e quem não rendesse logo, rua.

Era claro que uma política assim não funcionaria. Olhem bem, escrevo isso antes do fim da fase de classificação da Série C 2016. O América ainda tem remotíssimas chances. A classificação pode cair do céu ainda. Só que é preciso apontar agora um novo caminho, porque se essa classificação vier, certamente os erros serão encobertos.

Como construir um trabalho que seja produtivo se o presidente contrata um profissional que teria sido (há controvérsias) treinador apenas no longíquo ano de 1993 num campeonato praticamente de várzea? E ainda se recusa a apontar a sua convicção no trabalho dessa criatura? 

O mundo todo sabia que seria apenas uma questão de rodadas para a queda do Guerreiro. Nem um turno do estadual completou. É assim que se planeja um acesso para a Série B numa Série C cada vez mais difícil?

Macuglia chegou e com ele, apesar de bom profissional, o fantasma de tudo o que ocorreu em 2009. Mais uma contratação do tipo "sarna para se coçar". Como o América sofreu! Nem da primeira fase passou na Copa do Nordeste.

Enquanto isso, nomes de ex-treinadores que eram lembrados ao presidente eram solenemente desprezados: Roberto Fernandes e Flávio Araújo eram muito caros; sobre Oliveira Canindé, talvez em outra oportunidade (só para constar, Oliveira acabou de subir com o CSA. Ele perdeu o estadual para o rival CRB, mas foi mantido). Melhor mesmo foi abrir mão de uma preparação para a Série C que vinha chegando e do bicampeonato estadual para esperar um treinador que mais parecia aqueles anúncios sobre fiado nas velhas bodegas: "só amanhã". E esse amanhã nunca chegava.

Mas a Série C chegou. E com ela mandou-se um tal cheiro de podridão dos vestiários embora. Será? A convicção agora era o treinador que acabou em 7.° lugar no grupo A do ano passado - forte indicativo do destino americano. Um novo elenco. Duas vitórias. Mas o que se faz sem convicção não dura. E Sérgio China caiu com 6 rodadas.

Veio Diá, que não era o favorito, mas virou sonho de consumo desde o meio do estadual. O próprio treinador tirou sua carta de garantia: "o meu forte é montar equipes." Mas o campeonato já havia começado. Entretanto, contratações e dispensas seguem diuturnamente. Agora foi Brendo emprestado. Chegaram à conclusão de que Caaporã é mais valioso no elenco.

A convicção em Diá veio na hora errada. A menos que o América já o visse como treinador para 2017. Só isso justificaria o que vem ocorrendo. Porém nem tudo é tão óbvio no América. Diá deu entrevista dizendo que não sabe se fica em 2017.

Beto Santos ainda tem um ano, pelo menos, de administração. Será que aprendeu com as cabeçadas deste ano? Será que a desgraça de 2016 foi suficiente para ele entender que é preciso ter convicção no trabalho do treinador? Que o dinheiro gasto num bom treinador não é gasto, e sim investimento? Que montar pelo menos um time no estadual é economia na hora da Série C? Que a melhor estratégia é reforçar esse time do estadual e não anunciar que esse time não continuará para o Brasileiro?

Houve muitas outras lições neste ano: mais respeito ao sócio, mais carinho à torcida, que está sempre ali, pronta a atender o chamado do América...

Enfim, não há mágica no futebol, especialmente num futebol pobre como o do RN. O que me dói é a perspectiva de uma temporada horrorosa como a atual não ter servido nem para que se entenda como não se deve fazer futebol.

Haverá planejamento de verdade para 2017?

5 comentários:

  1. Um agravante é que além das dispensas intempestivas ou extemporâneas, não veio UM que despertasse na torcida aquele sentimento de "agora deu certo". O início com Aluísio foi o prenúncio de que algo estava errado. Mesmo assim, acreditamos que o eventual equívoco seria reparado, mas aí em Macuglia. Dose cavalar de desconhecimento e, como não podia ser diferente, sucessivos revezes. Perda do estadual com comissão técnica interina, eliminação nas Copas do Nordeste e do Brasil davam o tom do quanto iríamos sofrer. Havia tempo para uma solução. O mercado tinha bons profissionais disponíveis, mas seguindo a trilha dos erros absurdos, contratam Sérgio China. Se tivéssemos tempo para uma pré-temporada não seria o treinador indicado, ainda mais chegando com uma semana para a estreia da série C. É ou não, como bem disse Raíssa, procurar sarna pra se coçar.
    Como desgraça pouca é bobagem, contratam Diá. Enfim, o sonho de consumo, a ideia fixa do presidente, o "professor" Diá sempre lembrado para treinar apenas o América pelos nossos "formadores de opinião". E o nosso presidente embebecido pela mídia e seus comentários recheados de más intenções, finca o pé e o contrata dando-lhe plenos e irrevogáveis poderes. E ele não perde tempo. Dispensa jogadores como Elias e Rafael Toledo sem cerimônia e, segundo disse, por "divergências com os respectivos empresários dos jogadores". É mole? E continua a chegada de jogadores diariamente no CT. Vindos de todas as partes do Brasil e sem que ninguém parasse a sangria. Devia haver muito dinheiro no cofre para tantas e simplórias contratações. Uma lástima. Uma tragédia anunciada e que prova inequivocamente o prejuízo de uma administração ao futebol, as finanças e a imagem do América Futebol Clube.
    Sinceramente, uma torcida que coloca mais de 12 mil pessoas na Arena das Dunas com uma campanha pífia do seu clube do coração não merece uma administração como essa que está aí, não merece Aluísio Guerreiro, não merece Macuglia, Sérgio China e muito menos Diá.
    Parabéns Raíssa pelo excelente texto. São textos assim que fazem falta na nossa imprensa que tem uma boa parte subserviente, omissa e passional. Aqui não. Aqui se escreve a verdade com isenção e podemos discordar sem a famigerada censura. Mais uma vez, parabéns.
    ADAIL PIRES

    ResponderExcluir